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Terremoto no Afeganistão: magnitude 6,0 deixa mais de 1.400 mortos perto da fronteira com o Paquistão
O que se sabe até agora
Um tremor noturno de magnitude 6,0 virou do avesso comunidades inteiras no leste do Afeganistão. As autoridades confirmaram pelo menos 1.411 mortos e 3.124 feridos, números que vêm subindo a cada atualização. O abalo atingiu uma área remota, montanhosa e de difícil acesso, a cerca de 27 km a leste de Jalalabad, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos. A profundidade rasa potencializou o impacto, com vibrações percebidas da capital Cabul até Islamabad, no Paquistão.
O porta-voz do governo talibã, Zabihullah Mujahid, informou os dados mais recentes nas redes sociais, enquanto o vice-porta-voz Hamdullah Fitrat disse que as operações de busca seguem em todos os pontos afetados. Em Nangarhar, uma das províncias mais atingidas, o funcionário local Shah Mahmood relatou a destruição de aproximadamente 8 mil casas. O abalo aconteceu pouco antes da meia-noite, quando a maior parte das famílias dormia em construções frágeis de tijolos de barro, o que ajuda a explicar o número alto de vítimas.
- Mortes confirmadas: 1.411
- Feridos: 3.124
- Casas destruídas: cerca de 8.000
- Epicentro: área montanhosa a leste de Jalalabad
- Tremores sentidos em: Cabul e Islamabad
Helicópteros e equipes de emergência foram mobilizados, incluindo comandos enviados a pontos onde aeronaves não conseguem pousar. Em muitas aldeias, a primeira resposta veio de vizinhos cavando com as mãos e ferramentas simples, enquanto esperavam por médicos e ambulâncias. Estradas estreitas, possíveis deslizamentos e pontes danificadas retardam a chegada de reforços. Autoridades admitem que há localidades ainda sem contato, o que alimenta o temor de encontrar mais vítimas sob escombros.
Hospitais da região se preparam para um fluxo grande de feridos com traumas, fraturas e esmagamentos. Em cenários semelhantes no país, a falta de analgésicos potentes, antibióticos e kits cirúrgicos costuma ser um problema imediato. Outra preocupação é a necessidade de transfusões de sangue e de equipes com capacidade para cirurgias ortopédicas de emergência.
No campo, famílias inteiras dormem ao relento com medo de novos abalos. Réplicas são comuns após um evento desse porte e podem agravar danos em estruturas já comprometidas. Especialistas recomendam que moradores evitem retornar a casas rachadas, fiquem atentos a cheiros de gás e mantenham distância de paredes instáveis.
Resgate, desafios e ajuda
O terreno montanhoso e a infraestrutura precária complicam tudo: a cada curva, uma estrada danificada; a cada vale, um sinal de celular que falha. Em muitas aldeias, a casa típica é de barro, com telhados pesados e pouca amarração estrutural, o que provoca colapsos em cadeia quando o tremor vem de forma lateral. Como o terremoto foi raso, a onda sísmica chegou à superfície com força e pouca dissipação, derrubando paredes em segundos.
A crise humanitária se soma a um quadro econômico frágil desde a retirada das forças dos EUA e a redução de ajuda internacional. Agências de socorro alertam há anos que o sistema de saúde afegão está no limite, com escassez de profissionais, falta de equipamentos e orçamento curto para emergências. Em situações assim, cada hora perdida custa vidas, não só pelas lesões, mas também por infecções, hipotermia noturna nas montanhas e desidratação.
As autoridades locais pediram apoio externo para helicópteros, equipes de busca com cães farejadores, escavadeiras e hospitais de campanha. As prioridades nas primeiras 72 horas são claras: encontrar sobreviventes, estabilizar feridos, garantir água potável e montar abrigos seguros. Tendas, cobertores térmicos, kits de higiene e alimentos prontos para consumo fazem a diferença nesse início. Sem saneamento adequado, cresce o risco de diarreias e outras doenças transmitidas pela água.
Do lado paquistanês, tremores foram sentidos em cidades grandes e em distritos fronteiriços. A travessia de Torkham pode se tornar uma rota vital para o envio de suprimentos, caso haja coordenação entre as autoridades dos dois países. A logística por terra tende a ser mais viável que por ar na segunda etapa da resposta, quando o foco muda de resgate para assistência massiva.
Esse desastre tem raízes conhecidas. O Afeganistão fica no encontro entre as placas Indiana e Eurasiana, uma área sísmica ativa. Eventos fortes são recorrentes no Hindu Kush. Em 2022, um abalo de magnitude 5,9 em Paktika matou mais de mil pessoas. Quando casas de adobe predominam, mesmo magnitudes moderadas produzem tragédias, principalmente à noite, quando ninguém tem tempo de sair.
Para quem vive na região, o dia seguinte é sempre uma corrida contra o relógio. Moradores improvisam pontos de distribuição de água e comida, enquanto equipes médicas tentam organizar triagem em pátios de escolas ou mesquitas que ficaram de pé. O desafio é manter as rotas abertas para ambulâncias e caminhões com mantimentos, e ao mesmo tempo evitar aglomerações em áreas com estruturas instáveis.
Réplicas podem continuar por dias. A orientação básica é simples e direta: se estiver dentro de um prédio durante um novo tremor, proteger a cabeça e o pescoço, afastar-se de janelas e objetos que possam cair, e procurar abrigo sob uma mesa resistente. Se estiver ao ar livre, manter distância de fiações, muros e fachadas. Comunidades que passaram por treinamentos de preparação sísmica costumam ter menos feridos, mas isso ainda é raro nas zonas rurais do país.
Enquanto os números oficiais sobem, aumenta também a urgência por coordenação entre governo, voluntários locais e agências internacionais. Sem comunicação confiável, é comum que cheguem muitos donativos a um distrito e quase nada a outro. Mapear as necessidades por aldeia, priorizar áreas ainda inacessíveis e garantir combustível para ambulâncias e geradores são passos práticos que evitam gargalos.
O leste do Afeganistão carrega uma memória pesada de desastres naturais, e os moradores sabem que a reconstrução levará meses. Além de cimento e tijolo, a região vai precisar de crédito, ferramentas e capacitação para construir melhor, com reforços simples que reduzem colapsos, como cintas de amarração e estruturas de madeira bem travadas. Não elimina o risco, mas diminui o número de famílias que perdem tudo de uma hora para outra.
Neste momento, o foco é salvar quem ainda está sob os escombros e dar suporte a milhares de feridos. O alcance do impacto ainda está sendo medido, com várias aldeias fora do radar desde a madrugada. O que já está claro é o tamanho do choque: o terremoto no Afeganistão partiu em dois a rotina de uma região que, mesmo acostumada a tremores, não tinha como se defender de um abalo tão raso, tão perto e em plena noite.