Economia brasileira perde fôlego: indicadores viram e projeções para 2025 recuam

Sinais claros de desaceleração

O sinal de alerta já tocou: o impulso forte do começo do ano evaporou. Depois de um arranque no 1º trimestre de 2025 — quando o PIB real avançou 5,7% em termos anualizados sobre o trimestre anterior — os dados viraram. O IBC-Br, indicador mensal do Banco Central que antecipa o PIB, encolheu 0,8% entre abril e junho, mostrando uma perda de ritmo que não dá para ignorar.

Essa virada aparece em diferentes frentes. Em agosto, o Leading Economic Index (LEI) do Conference Board caiu 0,9%, para 119,0 pontos. A queda veio puxada por termos de troca mais fracos e por expectativas de consumidores e empresários em queda tanto na indústria quanto nos serviços. Expectativas em baixa costumam virar menos investimento, menos produção e, no limite, menos emprego.

Os PMIs reforçam o quadro. Em julho, tanto o índice de manufatura quanto o de serviços ficaram abaixo de 50 pontos — faixa que sinaliza contração. Quando isso acontece nos dois setores ao mesmo tempo, é um recado simples: a demanda esfriou e as empresas ajustam ritmo, estoques e contratações.

Nos números oficiais, a freada já aparece no PIB trimestral: a alta foi de 0,4% no 2º trimestre, na comparação com o 1º. É positivo, mas bem mais fraco — e, segundo analistas, muito ligado a uma demanda interna que perdeu força depois de aguentar o tranco por mais de um ano e meio. O consumo ainda foi “motor” no 1º trimestre, com alta anualizada de 4,2%, mas os ventos mudaram desde então.

Do lado das projeções, o ajuste de expectativas também é nítido. O Boletim Focus agora aponta 2,16% de crescimento do PIB em 2025. O Conference Board trabalha com 2,4% e a OCDE projeta 2,1% em 2025 e 1,6% em 2026. Não é colapso, é desaceleração — e isso muda decisões no chão da fábrica, no comércio e no crédito.

Em meio a isso, o Banco Central manteve a Selic em 15,00% e segue com tom duro, ainda que um pouco menos do que em reuniões anteriores. Juros altos por mais tempo encarecem capital de giro, achatam a margem de projetos e desanimam novos investimentos. Com o crédito caro, o consumo parcelado perde fôlego, o que bate direto na produção.

O que está por trás e o que acompanhar

O choque externo pesa. A tarifa de 50% dos Estados Unidos sobre a maior parte dos bens brasileiros virou um balde de água fria para exportadores. Empresas com vendas lá fora adiam planos e cortam custos; fornecedores do mercado doméstico, que atendem essas cadeias, também sentem. É um efeito dominó: menos pedidos, menos horas extras, menos apetite por ampliar capacidade.

Ao mesmo tempo, a inflação ainda desconfortável combinada com a Selic elevada corrói o impulso do consumo. Famílias ficam mais seletivas, alongam compras, trocam marcas e adiam bens duráveis. O varejo responde com promoções temporárias, mas sem ganho de renda consistente e com crédito restrito, o fôlego é curto.

O IBC-Br ajuda a ler a tendência de curto prazo. Quando ele fica negativo por alguns meses, a chance de o PIB oficial vir fraco aumenta. E o LEI serve como “farol” para os próximos seis meses: ao apontar quedas em expectativas e termos de troca, indica ambiente menos favorável para negócios e renda.

O quadro fica mais claro quando se olha o comportamento das empresas. Nem é preciso números mirabolantes: a combinação de custos financeiros altos, demanda oscilando e incerteza externa empurra decisões de investimento para frente. Projetos que fechariam a conta com juros de um dígito não se pagam a 15% ao ano. Resultado: manutenção em dia, expansão adiada.

A analista econômica Juliana Rosa resumiu esse sentimento: há um resfriamento consistente, não um soluço. Em linguagem simples, os sinais “adiantados” — confiança, PMIs, LEI — pioraram ao mesmo tempo em que os dados “reais” — IBC-Br, PIB trimestral — perderam intensidade. Quando os dois andam juntos, a sinalização costuma ser confiável.

O que observar agora? Alguns pontos ajudam a separar ruído de tendência:

  • Crédito: concessões para famílias e empresas, inadimplência e custo médio. Se o preço do dinheiro cair um pouco ou as concessões reagirem, o consumo pode ganhar fôlego.
  • Varejo e serviços: volume de vendas e faturamento real. São termômetros diretos do bolso do consumidor.
  • Indústria: produção física, uso da capacidade e estoques. Se estoques estiverem altos, a produção tende a andar de lado.
  • Confiança: sondagens de empresários e consumidores. Viradas nesses indicadores costumam antecipar retomadas — ou aprofundar quedas.
  • Setor externo: fluxo de exportações para os EUA e parceiros, impacto das tarifas e dos termos de troca.

Para as empresas, a tática do momento é prudência: caixa reforçado, gestão fina de estoques, renegociação com fornecedores e foco em projetos com retorno mais rápido. Para as famílias, a regra é evitar alongar dívidas caras e, quando possível, trocar passivos de juros altos por linhas mais baratas.

No governo e no Banco Central, o dilema segue o mesmo: segurar a inflação sem asfixiar a atividade. Com a Selic parada em 15%, a mensagem é de paciência. Se a inflação ceder de forma mais clara e as expectativas ficarem ancoradas, abre-se espaço para cortes. Até lá, a economia opera com freio de mão puxado.

No curto prazo, os cenários sobre a economia brasileira se dividem entre um “pouso suave” — crescimento mais fraco, mas ainda positivo — e um resfriamento mais duro, caso o crédito aperte mais e as tarifas externas mordam a indústria. A diferença entre um e outro vai depender das próximas leituras de atividade e do tempo que a política monetária levará para afrouxar.

Por enquanto, a fotografia é clara: o boom do começo do ano ficou para trás. Os indicadores líderes caem, os coincidentes desaceleram e as projeções acompanham. Alívio virá com sinais mais firmes de desinflação, alguma normalização no comércio exterior e uma melhora, mesmo que gradual, das expectativas de consumo e investimento.