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200 mil palestinos voltam ao norte de Gaza após cessar-fogo de 10/10/2025
Quando Mahmud Bassal, porta-voz da Defesa Civil da Faixa de Gaza anunciou que cerca de 200 mil palestinos estavam retornando ao norte do enclave nesta sexta‑feira, 10 de outubro de 2025, a população sentiu alívio imediato. O acordo de cessar‑fogo entrou em vigor ao meio‑dia (12h00) horário local, conforme comunicado do Exército israelita. Nas horas que antecederam a trégua, hospitais registraram ao menos 19 mortos entre civis palestinos, enquanto a destruição acumulada nos últimos dois anos já fez mais de 67 mil vítimas, segundo autoridades controladas pelo Hamas. O retorno massivo traz consigo cenas emocionantes e, ao mesmo tempo, um futuro ainda cheio de incertezas.
Contexto do conflito e o acordo de cessar‑fogo
Desde o início da operação militar israelense em 2023, a Faixa de Gaza tem sido palco de bombardeios incessantes, bloqueios rígidos e deslocamentos forçados. A maioria das infraestruturas — hospitais, escolas e redes elétricas — foi reduzida a escombros. Em meio a esse cenário, negociadores de ambos os lados, com mediação das Nações Unidas e da Rússia, conseguiram selar um acordo preliminar que previa a suspensão dos combates a partir de 12h00 do dia 10/10/2025. O documento, firmado entre representantes do Governo de Israel e do Hamas, incluía a liberação de 1.200 reféns e a abertura de corredores humanitários.
Segundo a agência de notícias France Presse (AFP), o cessar‑fogo foi anunciado oficialmente às 10h00 (horário de Lisboa) e entrou em vigor duas horas depois. No entanto, fontes locais relataram que ataques aéreos continuaram até poucos minutos antes da meia‑dia, cobrindo áreas ao redor da Cidade de Gaza e de Khan Younis.
Retorno massivo ao norte da Faixa de Gaza
Logo após a pausa oficial dos combates, as estradas que conectam o sul ao norte foram reabertas. A Defesa Civil da Faixa de Gaza mobilizou equipes de apoio para receber os deslocados, distribuindo água potável, kits de primeiros socorros e mantimentos. Conforme relatado pela agência palestina Wafa, cerca de 200 mil pessoas já haviam cruzado o trecho costeiro que liga o sul ao norte até o final da tarde.
Entre os que retornaram, havia famílias que há dois anos viviam em acampamentos improvisados na região de Deir al‑Balah. Uma menina de oito anos foi capturada em foto carregando uma sacola na cabeça, enquanto caminhava pela rua principal da Cidade de Gaza; seu sorriso tímido contrastava com os escombros ao fundo. Mais ao sul, uma mulher de trinta e cinco anos foi vista segurando seu bebê no colo, avançando lentamente pela rodovia que beira o Mediterrâneo. Em Khan Younis, jovens adultos carregavam mochilas cheias de pertences pessoais, muitas vezes recuperados de destroços ainda fumegantes.

Reações da população e imagens marcantes
Nas redes sociais, clipes curtos mostravam multidões cantando hinos de esperança enquanto se aproximavam de casas sem telhados. Observadores internacionais descrevem o cenário como "um hino visual de resiliência". No entanto, o clima de euforia é temperado por lembranças dolorosas: dezenas de famílias ainda buscam entes queridos desaparecidos, e a escassez de serviços básicos persiste.
Especialistas da ONU alertam que, embora o cessar‑fogo seja um passo crucial, a reconstrução de Gaza exigirá bilhões de dólares e um compromisso político firme. A agência de ajuda Human Rights Watch destacou que a maioria dos edifícios habitacionais está em ruínas, o que pode atrasar o retorno efetivo de muitas famílias.
Impactos humanitários e desafios ainda por enfrentar
O número de mortos — mais de 67 mil segundo autoridades controladas pelo Hamas — representa apenas a ponta do iceberg. O número de feridos supera os 150 mil, muitos com lesões graves que demandam fisioterapia prolongada. A escassez de energia elétrica, que já estava em nível crítico antes da trégua, ainda impede o funcionamento adequado de hospitais.
Além disso, a presença de minas não detonadas e munições não explosivas nas áreas urbanas cria um risco permanente. Organizações como a Anistia Internacional pedem a abertura imediata de corredores de desminagem, enquanto o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) já enviou equipes para avaliação.

Próximos passos e perspectivas para a paz
Nos próximos dias, a comunidade internacional deverá pressionar por um acordo duradouro que vá além da mera suspensão dos tiros. O secretário‑geral da ONU, António Guterres, prometeu enviar uma missão de monitoração até o final de outubro para garantir a implementação total do cessar‑fogo.
Entretanto, líderes políticos em Tel‑avive e em Gaza ainda trocam acusações sobre violações de fronteira e saque de recursos. Enquanto isso, a população de Gaza - principalmente nas áreas norte e central - continua a reconstruir suas vidas, um tijolo de cada vez.
Perguntas Frequentes
Quantas pessoas retornaram ao norte de Gaza após o cessar‑fogo?
Segundo o porta‑voz da Defesa Civil, Mahmud Bassal, cerca de 200 mil palestinos chegaram ao norte da Faixa de Gaza na tarde de 10 de outubro de 2025, principalmente para a Cidade de Gaza e Khan Younis.
Quantas mortes foram registradas nas últimas horas antes da trégua?
Hospitais locais confirmaram ao menos 19 civis palestinos mortos nas horas que antecederam o cessar‑fogo, antes que o Exército israelita suspendesse as operações.
Qual foi o número total de vítimas na Faixa de Gaza desde o início da ofensiva?
Autoridades controladas pelo Hamas apontam mais de 67 mil mortos desde o início da operação militar israelita em 2023, além de centenas de milhares de deslocados.
Quais são os principais desafios para a reconstrução de Gaza?
A destruição de quase toda a infraestrutura, a falta de energia, a presença de munições não detonadas e a necessidade de recursos financeiros bilionários são os maiores obstáculos à reconstrução.
O que a comunidade internacional está fazendo para garantir a paz?
A ONU enviará uma missão de monitoramento até o fim de outubro, enquanto o CICV e outras ONG estão trabalhando na desminagem e na prestação de ajuda humanitária para estabilizar a região.
Elida Chagas
outubro 14, 2025 AT 00:23Ah, mais um milagre diplomaticamente anunciado, como se a história fosse escrita por poetas de esquina. O cessar‑fogo nunca deixa de ser um espetáculo de luzes e sombras, onde cada promessa parece mais um ato de circo que uma solução concreta. E ainda nos vendem a ideia de que tudo volta ao normal como se fosse um concerto de verão, enquanto o sangue ainda não secou nas ruas.